Pajem, Duquesa, Cavaleiro
Há muitos séculos atrás, no tempo de reis e princesas e dragões, viveu um pajem. O jovem menino trabalhava nas cavalariças de um castelo que pertencia ao regente daquelas terras. Homem baixo e anafado, não era o mais bravo nem o mais inteligente, mas era justo e bem-querido pelo povo. Com ele, vivia a filha, tida com sendo a menina mais bonita do reino.
Para o rapaz, não podia haver ninguém mais belo que a menina, a Duquesa. E ele tinha um segredo (pelo menos, achava que era um segredo). Estava apaixonado por ela. Todos os dias ele pensava nela, e as noites eram passadas com sonhos de uma vida a dois. Mas o rapaz sabia que alguém de sangue azul nunca poderia estar com um mero súbdito como ele.
Então o jovem decidiu tornar-se merecedor. Partiu para outro castelo onde aprenderia a cavalgar, a lutar, a ser um cavalheiro. Tudo o que fosse necessário para se tornar merecedor do amor da duquesa.
Os dias eram passados em treino árduo e as noites em estudo. Viajou de terra em terra. Quando uma povoação não tinha mais nada que ele pudesse aprender, seguia para outra. Com as suas viagens vieram feitos. Com os feitos, a fama. O valente guerreiro lutou contra bandidos, forasteiros e reza a lenda que até domou um dragão. Mas no fundo do seu pensamento, estava sempre a sua amada. E sempre que voltava de uma demanda, escrevia-lhe uma carta.
Passados muitos anos, voltou para casa. Na sua fiável montada cruzou os portões do castelo, e vestido na sua armadura batida de inúmeros combates, bateu à porta do quarto da duquesa.
Quem lhe abriu a porta foi uma mulher velha e gorda. Desdentada. A Duquesa. A que sempre o tinha rejeitado. Nos anos em que o menino tornado guerreiro esteve longe do castelo, ela tinha caído em prazeres, em luxúria e gula.
"Meu amor!" Exclamou a nobre, ao reconhecer a figura plantada à sua porta. Histórias heróicas do guerreiro também tinham chegado aos ouvidos da rapariga. Mas enquanto o pajem se melhorou, a duquesa piorou. Todas as cartas que o rapaz das cavalariças tinha enviado tinham sido deitadas à lareira. E agora, as palavras de vazio louvor não eram dirigidas ao guerreiro, mas sim a um possível marido.
Num instante, o valeroso cavaleiro (que durante tanto tempo se considerou um mero pajem) pensou eu tudo o que tinha vivido, tudo o que tinha conseguido. Toda a sua vida tinha sido construída por ela. Nunca parou para pensar se ela seria merecedora desta dedicação.
Sem dizer uma palavra, deu meia volta e refez o caminho que tinha feito até aquela porta. Enquanto descia as escadas do castelo, o som dos seus passos misturou-se com súplicas da princesa-baleia. "Volta!" "Não me deixes!"
Montou o seu cavalo e de elmo na cabeça saiu pelos portões do castelo, cavalgando na direcção de uma nova aventura.